FELIZ NATAL
Vanda Lúcia da Costa Salles
A garotada alegre
sorria com os coloridos carrinhos. Um alvoroço na fila anunciava que o tempo
não transtornava a possibilidade de experimentar todos os bate-bate. Uma
alegria é maior que o deslize de lágrimas impuras.
O menino de
camiseta rosa dizia todo prosa agarrado a mão de sua mãe, afastando-se da
imensidão de pernas que o impediam de mirar o seu presente de Natal, "
sim, mãe, eu quero de presente de Natal um passeio nos bate-bate. Um não, dois.
Papai Noel disse que eu pedisse isso para você". A mãe, um pouco
amedrontada por conta dos parcos dinheirinhos na bolsa, enxugava um filete de
lágrima que teimava ficar em sua face, até secar ao tempo. De súbito,
transportada no tempo, em tempo vislumbrou-se pequenina igual ao filho,
segurando firme a mão de sua mãe, em frente a padaria do seu Zé da esquina,
desejando de presente de Natal as mais saborosas rosquinhas carameladas e que
dificilmente entrariam no cardápio da família. No frio da manhã, disse a mãe
que queria uma caixa das rosquinhas carameladas como presente de Natal. A mãe
nervosa, afirmou categoricamente:
- Nem pensar! -
Você sabe que o dinheiro de seu pai anda curto. Mal temos para o grosso, quanto
mais para o fino.
Pirracenta, não
entendendo nada de economias, chorrava saboreando as rosquinhas com os olhos
amorosos em desejos infantis, para depois espichar-se no chão reafirmando o seu
amor:
- Mais eu
quero! Eu quero! Eu quero!
Somente uma caixinha! Uma
apenas! É todo o sonho de minha vida!
Não teve jeito.
E até aquele instante preciso, compreendeu afinal o porquê de sempre rolar em
sua face àquelas lágrimas impuras, indesejadas, tão sonhadoras. Sem pensar, e
nem querendo saber se teria o bastante para voltar a casa, correu arrastando o
filhote pela mão em direção a fila dos carrinhos coloridos. E sem contar as
carinhas de alegria das criançadas, percebeu a imensa alegria de seu filho ao
derramar sua felicidade nas faces
coradas, no profundo de seu coração, para depois escorrer lentamente como
pincelada de um artista consagrando sua obra-prima. Enquanto o filho
experimentava o prazer do seu presente de Natal, ela correu os olhos buscando o
lugar ideal para dar a si mesma um presente de Natal, e talvez com sorte seria
uma rosquinha caramelada, e quem sabe secasse em sua face àquela lágrima
impura.