quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

HOMENAGEM: NEM SEMPRE AS PALAVRAS CHEGAM - MARIA AZENHA (PORTUGAL)*



Foto: A poeta Maria Azenha (Portugal)




NEM SEMPRE AS PALAVRAS CHEGAM



Maria Azenha (Portugal)


encosto o ouvido
às páginas do livro que nunca escreveste
e sei que és um búzio
ao
anoitecer


mando-te mil recados pelas lâminas do vento
da tua boca brota uma fonte
digo amo-te e às vezes a memória
é onde os pássaros não voam


nem sempre as palavras chegam
para levar as estrelas aos teus olhos

nem eu sei dizer o teu nome






ÁS VEZES DIGO: NÃO SEI PORQUÊ ESCREVO


Maria Azenha (PORTUGAL)



às vezes eu vejo a luz
às vezes na minha alma apodrecida fermenta uma sílaba
e sei que estou por detrás do claustro do corpo
às vezes os meus dedos exibem intermináveis pancadas
deixando pegadas de sangeu numa página virgem,
o vento empurra-as sem cessar para a neve das mãos.
às vezes habito entre os gritos caídos na terra
e é um ninho de víboras que escreve no chão


às vezes digo: não sei porquê escrevo
debaixo do silêncio nasce uma fonte
e o teu pai e a tua mãe para que o poema morra


afirmo-te como uma crianças;
não há outra coroa de espinhos


Aos loucos chega de uma só vez o crucifico da memória.

*Maria da Conceição da Silva Rodrigues Azenha : nasceu em Coimbra em 29 de Dezembro de 1945. Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra,Évora e Lisboa, em Escolas Secundárias e de Ensino Artístico.

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