domingo, 23 de dezembro de 2012

POESIA: COM VOCÊ - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Amoras.




COM VOCÊ


                    Vanda Lúcia da Costa Salles



           Minha boca saliva amor
                 mora
                    amor
                         amora

          Minh'alma cativa aroma
                   flor
                     aro
                         de amor
                             

          Minha vida na lida: fervor
                       amoras
                         amoras
                            amoras
                     humshumshmshums  
                     
( porque ninguém é de ferro!)
                     
           

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CRÔNICA: DENTRO DE NÓS - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Maria Amaral Ferreira ( Maria Salles), por Vanda Lúcia da Costa Salles (poeta Vanda Salles)

DENTRO DE NÓS

                              Vanda Lúcia da Costa Salles


     Em momentos que a mente acaricia, sei que vives, com esse ar de Dama Antiga e dissimulada porque
sabes que a saudade brota gerânios, tulipas e hortelãs. Como grapete, nomeada era e os netos vinham saber dos causos e namoricos de adolescentes. E ficávamos sorrisos largos, a retirar os cabinhos das pimentas malaguetas ou a formar, peça a peça, a beleza de um fuxico.
     De certo que a dúvida nunca adentrava o afã do peito amante, dançando um samba ou um cateretê. Então, dizias, em tardes de veranico, "a maresia entorna o caldo do pirão de carapeba, moreno, prepara a lenha que o fogo já nos convida". E toda faceira, alisava os lençóis.
     Um dois, três, quatro, cinco, seis filhos seus e mais três de quebra no angu do tacho criados com tapioca, violão e rede. " Neném que o diga, Josias nada sabe do clarão da Lua quando a noite brilhava encanto. Vanda, tão bom seria se tivéssemos um tapete voador, não?" Imaginar nem era preciso, sabíamos que do sonho era a vantagem do guia. Seguíamos pegadas.
     Pintora fosse,  falou um dia, chuva caindo fininha como agulha perdida na cegueira do olhar, " eu pintava a flor, delicada flor, e enfeitava a casa de Seu João Aleijadinho. O pobre, mal consegue respirar, mas também uma solidão tão torta, que nem cal as paredes aceitam. Cotiado, diz caminhar nas horas." Ouvido atento, dentro de nós, a admiração se expandia como pé de samambaia ou cortadeira chorona. Ah!  Senhora de toda nossa vida e matriz de mim, como sufocar a ausência que deixaste nessa casa com portão verde floresta e uma biblioteca comunitária num desejo todo próprio do projeto firmar?
     Num cavalinho branco que penso ser o unicórnio azul de teus sonhos de menina ( o qual, contaste oras a fio, enovelando as nossas cabeças fantasiadas de colombinas, em uma noite de Carnaval passado em Balneário de São Pedro D'aldeia), partistes, como quem parte desejando boa-noite e no dia seguinte viesse convidativa para um banho de mar, nas Dunas ou no Farol.
     Às vezes, ao ler sobre o Egito Antigo ou  O Alienista, de Machado de Assis, creio vê-la ao meu lado, tão dentro de nós, em sorriso de coqueteria, "ainda serás, uma grande, mais grande professora e eu, apenas a mãe".
     Chamava-se Maria Amaral Ferreira, neta do Capitão Costa, filha de Olívia da Costa amara, e amava poesia.









domingo, 21 de outubro de 2012

POESIA: UM BEIJO SÓ - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES







UM BEIJO SÓ


                         Vanda Lúcia da Costa Salles





Lindos e entristecidos estavam
como se a chaga não recebesse o bálsamo
como se o sorriso não alcançasse a luz
como se a vida não soubesse
que um beijo só bastaria
 para que o sonho
    tangesse o bandolim










sábado, 6 de outubro de 2012

CRÔNICA: A MULHER QUE ESTUDAVA A FUNÇÃO DE MORSE AO REDOR DA ORIGEM - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES





Foto: pássaros





A MULHER QUE ESTUDAVA A FUNÇÃO DE MORSE AO REDOR DA ORIGEM


                                                    Vanda Lúcia da Costa Salles




      Ela sabia que usava números.  Ao longo de sua vida, disseram a ela que a suavidade das coisas nem sempre estabeleceriam o valor dos acontecimentos e muito menos o prolongamento de seus avessos. Os avessos, para ela, sempre foram números impessoais na teoria das singularidades porque o que dominava mesmo era a variante local das interpessoalidades.
      Naquele dia estranhável, decidira que em sala de aula ousaria aplicar e classificar as patologias decorrentes da ausência de afetividade de uma inversa local ao redor de um determinado ponto do domínio de uma função diferenciável a uma emoção qualquer. Nunca saberia da possibilidade... Ah!  se não fosse a chuva torrente que caía.
      Ao descer do ônibus  na esquina da escola ( ela andava de ônibus porque seu dinheiro de professora não cabia no orçamento de um carro particular) percebeu duas enormes poças d'água enlameadoras e ameaçadoras. Dito e feito na composição de sua intuição, fora banhada cabeça aos pés pelas águas impuras da dita poça. quando um outro ônibus acelerado e acelerando propositalmente, o motorista sorrira insano pelo prazer de vê-la, ali, estupidamente gelada. Mal pensou, esqueceu completamente as aulas que daria, além  da construção neuroestética pelo prazer em que estudava a função de Morse ao redor da origem.
      No mesmo passo que vinha, voltou. Subiu na primeira condução que a levasse para o aconchego do lar. Sentia uma emoção nervosa e dolorida no desconforto da roupa molhada e uma indignação ou melhor, uma impotência diante da lembrança do sorriso perverso do trabalhador daquela viação 04.
      Alguém que a observara da janela, quebrando o silêncio dos passageiros, indagou-lhe curioso:
      - Então Senhora, seus alunos ficarão sem aulas hoje?
      - O Senhor viu o que aconteceu? Impossível, não?!
      Simultâneo ao diálogo, adentra apressada nesse outro ônibus uma Senhora loura, encharcada da chuva que caía, torrencialmente, parecendo anunciar um dilúvio. E pede ao motorista uma carona porque não tinha condições de pagar a passagem para chegar até a cidade do Alcântara, pois se faltasse não conseguiria o emprego combinado, dizia ela, que o dia anterior havia tido febre de 39 graus. O motorista achando que era caô, negou, é claro. Ela insistiu, o trabalhador negou, explicando que se lhe deixasse atravessar a roleta, ele é quem teria que pagar a passagem no valor de dois e sessenta centavos. Pensei, que cacete é a vida de um trabalhador com salário mínimo, chegar no dia 20 do mês e não ter dois e sessenta centavos para uma passagem, que país é esse? O meu, é claro. Diante do silêncio profundo produzido pela Senhora que ajoelhada, pedia, implorava, minha voz rouca e forte se fez ouvir: motorista deixe-a passar, eu contribuo com dois e quarenta centavos, é tudo o que tenho na bolsa. Quem pode inteirar quarenta centavos?
       Uma Senhora Negra puxou uma pequenina bolsa e ofertou  duas pratinhas de vinte centavos. Entre os 18 passageiros, somente ela sabia de empatia à causa da dignidade de uma trabalhadora em um dia nefasto, porque " isso também já aconteceu comigo". E a  nova passageira, agradecida e agradecendo com seus olhos azuis marejado de lágrimas, explicava a nós duas:
       - Pedi tanto a Deus enquanto caminhava e decidi pela carona nesse ônibus, que enviasse um anjo em meu auxílio. Veja, Deus atendeu as minhas preces. Em vez de um, enviou-me dois anjos, agora sei que ficarei no emprego que vou ver para mim.
       Dentro daquela lotação, vinte e uma pessoas aprenderiam, cada uma com a sua percepção, a importância invertível, ao descrever o dia, via mudança suave de coordenadas.
     
     
 
  

domingo, 30 de setembro de 2012

POESIA: NO OLHAR DA JACUTINGA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)





                         NO OLHAR DA  JACUTINGA


                                                     Por: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)




           
o sonho desdobras em sua garganta azul
                             delicadamente
                                da palavra preservada, o amor quis
                                                     somente como semente
                                                                  o toque harmonioso das línguas


                no olhar da jacutinga
                          um outro olhar que vê
                                       o que se quer dizer:
                                                     não a extinção!




e se a vida desse forma, seríamos uma poesia?




a ti, oferecida está minha linda acatinga
               cravejada de itapirangas
                    com provocantes
                             ubatubas
                                 circundadas de itatinga
nesse chão de ibiúna onde corre alta
                     maracanatuba
                       pacatuba
                          piratuba
                             e até
                             um quê de leve que me causa, e piando firme
                                                                                 na matula trago afagos


sei que sou apenas um selvagem
                um joão-ninguém
                     um sonhador
                           que apenas conhece cada folha da floresta em que vive
                                                            e medra a flor, tão livre flor


como a graúna que pia forte
                       e destemida voa
                                 num galope só


e se nada sei dessa civilização
                         que renega a nossa condição
                                                  no olhar da jacutinga
                                                                          o colorido da mata, e nesse olhar
                                                                                                   
         


um quê de leve que me causa
                                 


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

DA POÉTICA DE ROSANE SALLES E A QUALIDADE PSÍQUICA



Foto:  Rosane Salles Silva Souza, por Vanda Lúcia da Costa 


      DA POÉTICA DE ROSANE SALLES E A QUALIDADE PSÍQUICA ATRAVÉS DE BONECOS DE PANOS

       " É emocionante ver como as crianças desenvolvem maior concentração e motivação para criarem através de seus bonecos de panos, brincadeiras, histórias que compartilham com toda a sua criatividade e alegria. Assim as pensei e criei."




BONECA DE PANO   I  - A  QUE CONTA HISTÓRIAS




BONECO DE PANO II   -   PARA A CRIANÇA ELIAS




BONECO DE PANO III   - PARA A CRIANÇA ISAIAS   

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

POESIA: SENÃO QUANDO - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)

Foto: Maçãs


                                    SENÃO QUANDO


                                              Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)



um ato bobo
este
de pensar
na vida
e que
a vida
de súbito
floresça
o que há de imprimir
e forme
a fruta
que ague
a boca faminta
e este gosto
de pássaro ser


( Alcântara-São Gonçalo, 03 de setembro de 2012)