domingo, 27 de fevereiro de 2011

POESIA:SE AS AVES BATEM SUAS ASAS E PARTEM... O POEMA CHORA RAIOS DE SOL, NA MANHÃ... POR: VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Cotovia






SE AS AVES BATEM SUAS ASAS E PARTEM... O POEMA CHORA RAIOS DE SOL, NA MANHÃ...



A Moacyr Jaime Scliar- 1937-2011- ( in memoriam)





Nesse instante, impacta-me a notícia:
Mais uma ave bateu suas asas e partiu
Como quem se oferece todo ao Cosmos...
E para além das estrelas, talvez,
Receba em contrapartida o aroma sutil da semente intacta
Na elaboração do fruto.

Desfolho uma de suas tantas estrelas sutis
Um sorriso brota louco,
Na irreverência tamanha, entrelinhas:
A Orelha de Van Gogh,
O Centauro No Jardim,
Olho Enigmático,
A Mulher Que Escreveu A Bíblia... A vida irradiada em alentos fagueiros... Tempero da língua!


Aqui,
Esta cotovia dourada se destrava e canta bem alto o que sabe:
Se as aves batem suas asas e partem... O poema chora raios de Sol, na manhã...
E leva pelas mãos a criança que se adentra nessas mesmas luzes transbordantes
Da fonte



E a canção se faz Esperança
porque uma cotovia prateada pousou nas mãos do Altíssimo,
Contou-lhe uma linda história da Terra,
Com humor,
no jeito todo próprio de sua língua, mais que amada.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

HOMENAGEM: PURA LÓPEZ - COLOMÉ (MÉXICO)*


Foto: Bandeira do México



Foto: PURA LÓPEZ-COLOMÉ (MÉXICO)


POESÍA

1


Qué intimidad rezuma
entre aves y aire.
Se congregan sobre el agua,
apenas en la superficie:
se arrebatan el pan,
se hacen daño o miran fijamente
al habitante de otros reinos.


2


Desde el muelle,
punto medio,
vi nacer el rayo, abrirse en triángulo
y cerrarse,
con brillos cada vez mayores,
como una estrella sobre fondo luminoso.
Un pato atravesó esa línea
sin que hubiera el menor cambio.


3


No es mi ojo
el que abre y cierra
este escenario.


4


De regreso de la costa,
el canto del gallo
me recorre.
Aquel día, al despertar, sentí la muerte cerca: una sirena muda, sin boca,
a principios de la juventud, de la primavera, de la femenina flor. Al sentirse
tocados, los pétalos se cerraron de inmediato con el estruendo de un
portón de hierro. Alguien me susurró al oído: “Ofrécele tu pena a Dios”.
Era una voz que hablaba por la piel. Le hice caso de manera maquinal,
pensando en el camino de santidad de quien lo ignora todo. Con los ojos
cerrados, miraba mi alma, sus máculas pequeñas, crueldades para con el
amor. Cuando el portón terminó de sellarme los oídos, ya había olvidado
aquella ofrenda. Mi perdón de entonces duró lo que una frase, y lentamente
cayó al pozo. Hoy, ante un triángulo de luz sobre las aguas, me supe dentro
de la cifra, parte de una huella entre las olas.
Un canto del gallo,
duelo distante.




*PURA LÓPES-COLOMÉ: és poeta, ensayista y traductora. Es autora de Un Cristal en Otro y Aurora. Su libro Intemporie. No Shelter: The Selected Poems of Pura López-Colomé, fue traducido al inglés por Forrest Gander y publicado por Graywolf Press. En 1992 le otorgaron el Premio a la Traducción por su labor en torno a la obra de Seamus Heaney. También ha traducido al español algunas obras de Samuel Beckett, H.D., William Gass, Philip Larkin, Edwin Muir, Frank O’Hara y William Carlos Williams.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

HOMENAGEM: TOQUES - ANA PELUSO (BRASIL)*




Foto: Bandeira do Brasil




Foto: Ana Peluso




TOQUES

ANA PELUSO (BRASIL)


um passo
eis
a arrebentação.
no dedilhar dos dedos insanos,
portadores das carícias táteis,
conheceu
o mar que desassossega,
o amor que se desintegra
na dose letal
da paixão.




SOBRE O POETA


ANA PELUSO (BRASIL)


o poeta sofre :
de falta de palavras
de falta de certezas
de falta de amores
que o tempo lhe rouba
enquanto busca a caneta : o papel
e os rascunhos pendurados
em si mesmo
: mas se a busca cessa
corre o risco de morrer
paralisado :
de falta de amores
de falta de certezas
de falta de palavras :
o poeta sofre



*ANA PELUSO: Nasceu em 1966, paulistana, poeta, ilustradora, participou de algumas antologias, entre elas "Dezamores", Ed. Escrituras, 2003, editou o site de arte Officina do Pensamento.Atua na rede como webdesigner, ilustradora e colunista e colaboradora em vários sítios.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

HOMENAGEM: NARCISO - MÍA GALLEGOS (COSTA RICA)



Foto: Bandeira de Costa Rica





Foto: Mía Gallegos (Costa Rica)




NARCISO


MÍA GALLEGOS (COSTA RICA)



Narciso no era bello ni hermoso.
Lo embriagó su propia pequeñez,
su rostro en el otro rostro.
No halló la paradoja,
la secreta lámpara,
los jaspes,
el centro de luz entre sus cejas.
No tuvo por dentro un auriga,
ni la espada para vencer al tigre,
ni bebió de la tórrida, altiva respiración de los dragones.
Lo hallé muerto,
como las flores remotas que desconocen su origen
y su aroma
El eco no lo pudo salvar
de la muerte
de la embriaguez,
de su oscura bastardía.




NARCISO


MÍA GALLEGOS ( COSTA RICA)




Narciso não era belo ou formoso.
O embriagou sua própria pequenez,
seu rosto no outro rosto.
Não encontrou o paradoxo,
a secreta lâmpada,
os jaspers,
o centro de luz entre as sobrancelhas.
Não teve por dentro um cocheiro,
nem a espada para vencer ao tigre,
nem bebeu a tórrida, altiva respiração dos dragões.
Encontrei-o morto,
com as flores remotas que desconhecem sua origem
e aroma
O eco não poderia salva-lo
da morte
da embriaguez
de sua escura bastardia.

*Tradução: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)


MÍA GALLEGOS DOMÍNGUEZ: naceu em São José, Costa Rica em 17 de abril de 1953. Publicou inúmeros livros de poesia.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ARTETERAPIA: GENTILEZA É 'AMORRR' - SOBRE A OBRA DE JOZZÉ AGRADECIDO - POR VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Foto: GENTILEZA E OBRA (RJ)





CAPÍTULO 4- GENTILEZA É ' AMORRR': SOBRE A OBRA DE JOZZÉ AGRADECIDO



Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois
incapazes de ouvir a minha palavra.

(JOÃO, 8:43 )



Allienus, em latim, significa "o outro" (a sociedade). Está alienado, pode-se perder a sensibilidade de intuir, sentir e refletir o fenômeno da vida e do seu momento histórico: essa a grande aventura humana.
Viver é uma dádiva, amar é a ação que pode ser aprendida, compartilhada, cultivada no interior do público e do privado. Bastando pelo desejo amoroso, dotado da atenção e intenção, objetivar essa arte maior.
Amor é o belo, conceito burguês romantizado. Já " Amorrr" é a própria arte. É toda sabedoria de que é capaz o espírito em perfeita comunhão com o Cosmo. É o mito original cuja função divina restaura o equilíbrio perdido. É a religiosidade inerente do/no ser. "Amorrr", portanto é a estética que revolucionará o social. E revolucionará o mundo.
Em seu discuro " ex-cêntrico" (voltado para que a massa se perc eba povo0, Jozzé Agradecido - o Gentileza- pregava a arte como liberdade transgressora, e não o belo. A beleza em suas múltiplas formas; poesia revelada.

(...), porque todos pensaram sempre no belo, que é conceito, e não na arte,
que é fenômeno, coisa real, objetiva, e que não só existe sob uma multipli
cidade de formas como é, em cada momento, uma e múltipla. (MONTEIRO,1961,
P.20)


Marcando uma singular diferença, busca fazer do seu corpo e alma o foco e atenção do povo. Busca, através da linguagem da imaginação, evidenciar a construção de sua obra de arte; poesia no concreto. Ensina que a arte, enquanto linguagem, pode facilitar a aprendizagem na conscientização de formação de seres poéticos, o que assimilou que "compreender profundamente a arte é uma atitude de humildade e de amor" (op. cit,. 1961, p.23).
Parodiando o modelo, Gentileza recria a via-crucis. Preocupa-se com o efeito que é o estranhamento de toda a sua fala. O leitor/fluidor irá ao modelo, mas já assumindo uma postura crítica. na repetição, a informação: um home do povo que se faz divino, um anti-herói apontando o hiato na História, o automatismo dos corpos na paralisação social (obstado por um período longo de ditadura no país). E a ditadura estabelecida, por comodismo e condicionamento, na prática cotidiana.
No mito do profeta, aquele " uma fala,que é mensagem"(BARTHES, 1993, p.131), Gentileza - o pedagogo das massas - em sua poética do espaço denuncia a crise das relações nas relações insignificativas. Primando por uma revisão deos valores da cultura espiritual e material voltada mais para uma radical mudança da realidade cotidiana. Em seu nonsense busca o sentido para a padronização humana, poetizando a ternura gera o processo do auto-conhecimento para a significação humana: colocação da arte na vida. Recolocando-a no seu espaço de direito: no imaginário popular. Num gesto de carícia, um toque dialetizador da luta entre Liberdade X Opressão. Onde se situaria a loucura, quando sabe-se que " amar o próximo não é mais idealismo "místico" de alguns. Ou aprendemos a nos acariciar, ou liquidaremos com nossa espécie" (GAIARSA, apud SHINYASHIKI, 1988, p.11). Seu " Amorrr" - linguagem do inconsciente - verbera e " a linguagem passa a ser vista como entidade histórica, instrumento de intercomunicação social e de expressão cultural" ( MARQUES, 1995, p.35). Reivindica, assim, a originalidade nacional pela linguagem afetiva, humanizada como objeto privilegiado de prazer e saber.
Diz o pregador-poeta: " Não sou obrigado a nada. Ninguém é obrigado a nada. Só agradecido." E reiventa a palavra na triplicação das formas, fundamenta uma ética em sua linguagem divina e desvela o ideológico a arquitetar a reestruturação social através da força de sua cantábile. " Porém, a grandeza das obras de arte consiste unicamente em revlar o que a ideologia oculta. Queiram ou não, sua consecução, seu êxito, supera a falsa consciência." ( ADORNO,apud CASTRO, 1983, p.27).
E o que a ideologia oculta? a dificuldade da humanidade, impedida que está, pela miséria generalizada, de criar um modelo de sabedoria? Na negação pela "parole" que se quer democratizada do modo de ser burguês? Ou da ausência da emoção que funda uma causa: o corpo social fragmentado? O "Amorrr", aqui, como no Banquete de Platão, aparece como criador, cujo poder é incomensurável e não se limita a criar; todavia torna àqueles a quem toca capazes de criar também. " Amorrr" é a cura.



( In: DIVERSIDADES E LOUCURAS EM OBRAS DE ARTE: UM ESTUDO EM ARTETERAPIA, 2002,por VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES)

ISBN 85-86854-99-9
9788586854996

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

POESIA: A CAMINHO DA ESCOLA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Sorria


A CAMINHO DA ESCOLA


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Crianças dançam, sapateiam, pulam, jogam e sorriem
a caminho da escola...
Sonhos expreitam olhinhos matreiros que seguem
em sinuosas curvas imaginativas.
Elas esperam que nossos beijos, carinhos, afagos e ternura
sejam
o que as esperam na roda da brincadeira
Brincar, brincar, brincar - na mente ancha de desejos, assumem posturas.
Uma de trança joga o aro da pulseira e diz muito certa da vida:
- Esse grilo também vai para a escolinha na floresta!
A de amarelo, segurando uma boneca, replica tão tagarela:
- Ora, el não tem mochila com estrelinhas da Puka!
Já os meninos trocam as bolebas de gude,
conferem as cores e brilhos,
repassam figurinhas de futebol
e guardam as preferidas. Um olho fechado para escapar do Sol, na face
um jeito de ser feliz.


A caminho da escola, todos
alegres invadem o palco. João Pedro indaga:
- Por que as escolas não possuem piscina? O calor é tão intenso, aqui!
Maria Amélia explica que os adultos são tolinhos,
esqueceram que foram crianças... E que criança adora água... E sorvete.
A Escola Pública coloriu-se de verde.
Uma flor desabrocha-se em várias janelas, na esquina
de uma ruazinha no Rio de Janeiro. Uma música emocionada espalha-se no ar!



Camile explica que é seu aniversário. 7 aninhos e um dentinho já caiu.
E que todas as crianças do mundo irão a sua festinha, se a mãe deixar.
Deixa não deixa deixa não deixa deixa não deixa, se deixa tá
tatarararatatata
corre,
pula,
larga a mochila,
e senta na grama do parque. Mãeeeeeeee, vamos fazer um piquenique?




Envolvente o olhar
de sereia cativa, a deriva
no entrave do portão. A sineta toca, toca mais uma vez
Mãe e filhos se olham, e correm ao portão principal.
Um novo amanhecer os esperam, espero.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

POESIA: DEMOCRACIA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Rosas Vermelhas






DEMOCRACIA


VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)




Ó Língua, faça-se entender
entre os povos
e livre permaneça
fala
na humana escrita


Na qualidade das relações sociais,
na comunicação
e intercomunicação
como aquelas mãos pintadas nas paredes das cavernas
sonhando
escrevendo/descrevendo
do seu imaginário
novas formas de liberdade


E se agora,
ao ler Fedro,
a alma transpira o novo
Seja plenamente linguagem
o fio transparente do discurso.