domingo, 17 de junho de 2012

POESIA: CÂNTICO DA MUSA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Café Literário ( Eventos e Comércio de Artes) da autora





CÂNTICO DA MUSA

          Por: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)


Ainda vivo e canto,
encanto,
meu canto é, na verdade,
o que em mim aos pássaros é exercício de asas.
Em madrugadas frias
ou noites desvairadas, apenas
canto esse meu canto profícuo,
a embalar tantas vidas,
a enamorar-se das dádivas
para presentear-lhes em gorjeios
na voz/palavras da
fonte do Amor
A despertar-lhe o caminho,
no gosto,
do seu gosto,
a única e inequívoca verdade.
Assim,
ainda vivo e canto,
encanto



sexta-feira, 11 de maio de 2012

POESIA: ESTA É A FELICIDADE... - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES

Foto: Kafka


ESTA  É A FELICIDADE...



                  VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES ( RIO DE JANEIRO -BRASIL)



Esta é a felicidade... abrir as páginas de teus sonhos e tocar
levemente,
gozosa escrita: alento d'alma,
que espia prosa & verso
como o caminho descrito pelo esguicho do jorro faceiro, da centelha divina
nas águas de um chafariz.


Esta é a felicidade... o enamoramento dessa face, tão tua
No aguçado olhar, pássaro em fogo, linguagem sedenta
esclarecendo toda
a lucidez
 invasora lucidez
ao pequeno ato de ser, apenas
a poeira da estrada.


Esta é a felicidade... ao fechar do livro, saber
da obra, o que resta: imaginação em processo,
não somente
um terno cinza numa manhã tão cinza de sorrisos.
Saber que mesmo no silêncio das horas, estamos
aqui,
um no outro.



Esta é a felicidade... ler a possibilidade que deixou-me em face!



terça-feira, 1 de maio de 2012

POESIA: ESQUISITICES- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES



ESQUISITICES


                       VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES
                   I
  espelho d'água contempla sua face, os vértices
  no espaço dobram as notas, corro ofegante
  para que o tempo dê tempo, quando
  as pautas passeiam músicas, e encantam o
  pontilhar esperançosos dos signos, como
  essas pétalas unidas em flor

                  II

um caminho se estende, pernas
através da chuva atravessam pontes, e este
friozinho na barriga organiza o mote
destas esquisitices, broto
como um broto que acontece primaveril
em jardins de coração afável

                 III


o gato que parece chateado, enrosca
solto e o denomino poeta, um sorriso escapa
e a força da realidade se rende,
(na consciência da limitação),
à palavra mágica que doma, este
físico diálogo

quarta-feira, 25 de abril de 2012

POESIA: PÁSSARO DOURADO- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES



PÁSSARO DOURADO

     Por : Vanda Lúcia da Costa Salles


     A todos os amigos ( e aos que virão)


No instante em que lemos, amor
As asas aplumam-se para o voo livre,
De pássaro dourado que és
Assim, a vida passeia em nossas entranhas, sem agonia.


É essa dourada cotovia passeia destemida, faceira


Paixão de sempre: do dia em que contavas nos dedos
O quanto sabias de números e segredos, ou
Rias alegremente, com vontade


Ah!  E a primeira poesia? Como gargalhavas, no instante perspicaz
Cantando a amizade e esse nosso amor pelas palavras
Amenizando a vida, o tempo e a rota
Sonhando musgos, orquídeas e compassos
Ou agasalhando o projeto com dedos firmes e zelosos...


E aqui, estamos nós, na fugacidade do tempo
Um pássaro dourado, cantando


Sua liberdade de voo, encanto
Em corpo humano, amigo do sonho de ser
Isso : a dobra no avesso do avesso, Ave!
 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

POESIA: UM GRÃO DE AREIA - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)





UM GRÃO DE AREIA



VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



alimenta-se do grito
espelhado,
enigmático,
agônico,
estriônico,
que seja onda
esse som que resta ao grão,
em sua metamorfose


de areia
esculpido por vagas
e ventos e mais que seja
na onda
de marés,
gestos serpenteados
no gozo da flor
aberta a lírios e colibris


a tempestade em tormentas
nem sempre alcança o sonhador,
e se edifica
ou assim fica,
resta apenas,
um grão de areia... Nas mãos o afago,
e nos olhos que vê,
além da praia
(o arrebento de espumas pulverizando)
os desenganos
rochedos de poesias... E na língua, o acre-doce sabor!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CONTO: O CURIBOCA E A CUMBUCA- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)



Foto: Vanda Lúcia da Costa Salles




O CURIBOCA E A CUMBUCA






O caraxué cantou no laranjal espremido por entre as folhas esconderijos. O curiboca foge de si mesmo. Colocara a mão em cumbuca e não sabia como sair.
A lenda narra que amarrou a liana aos pés e pulou o abismo. Evolou-se. No litigo bateu e o élan do corpo evaporou-se. Vergonha foi da insídia cometida. Deixou cair o escudo tribal.
Todos sabiam na tribo que seria assim. Estava escrito. Sua conduta exorbitante, sempre fora exercício de exibição e desgosto para a pequena indígena que o criara com profundo e infinito amor.
O escudo ficara entrincheirado entre as pedras. No alto, da Serra Barriga. Um tempo viria em que o Outro descobriria o segredo. Se segredo houvesse. Mas vovó Cambinda, calma esperava o curiboca e o seu amigo albino, confiante no sorriso do neto que a levaria aos parentes mais próximos, além mar. Viveria na América, sim senhor!
Estúpido preparara a armadilha para a anciã que sorria, aguardando o presente anunciado. O que ela não sabia era que ele a vendera ao branco albino, que se aproximava, remando lento, em sua velha canoa.

domingo, 1 de janeiro de 2012

CONTO: MINHA ESPERANÇA- DAVID RIBEIRO (BRASIL)










DAVID PRADO RIBEIRO(BRASIL)



MINHA ESPERANÇA


Meu nome é Carlos Duarte, médico cirurgião e ortopedista graduado em 2007, pela Universidade de Medicina do Rio de Janeiro, embora tenha muitos anos de carreira, me surpreendi no ano de 2010, quando numa noite chuvosa, passando rapidamente de carro por um atalho nas ruelas de Santo Amaro, avistei um saco azul de mercado com um durex enrolado e apenas alguma coisa se mexendo dentro dele. Aproximei-me e com receio abri o saco e por incrível que pareça era uma criança com má formação em seus dois membros inferiores. Apesar do isolamento, havia um casebre ao longe, com a luz acesa e a porta aberta, sem nem pensar corri até a porta e vi um casal de senhores, sentados, assistindo à novela. E então exclamei:
- Me ajudem a salvar esta criança!
Sem entender muito bem, responderam:
- Sim, nós o ajudamos.
Então levamos a criança e a secamos, ela ainda possuía o cordão umbilical. Fiz os primeiros socorros e a levei às pressas para o hospital em que trabalhava. Lá chegando, todos os médicos se comoveram com a história da criança e a colocaram fora de perigo. Demos a ela o nome de Esperança.
Mesmo sendo recém-nascida, Esperança estava esquecida no hospital. Nenhum casal se interessava em adotá-la e eu já estava ficando muito triste com a situação. Então decidi fazer um teste, criei uma mini prótese para imitar suas pernas e coloquei um lençol até sua cintura. Todos os casais que foram ao hospital naquele dia se interessaram por Esperança.
No dia seguinte retirei as mini próteses e o lençol, e convidei os casais para uma segunda visita e todos os casais desistiram da adoção. Fui para casa indignado, pensando como é possível haver pessoas tão preconceituosas em nosso cotidiano. Daí, perguntei a mim mesmo em alta voz:
- Será que somente eu consigo ver a essência no olhar de Esperança e não a ausência de suas pernas? E tendo ouvido isso minha esposa respondeu-me que “ ela não podendo dar-me um filho, Deus colocou essa criança em nosso caminho. Portanto, deveríamos adotá-la!” – E eu muito feliz respondi-lhe:
- É isso mesmo, amanhã irei entrar com o pedido de adoção.

Chegando ao hospital, fui ao berçário e levei um enorme susto. Esperança não estava lá, então, perguntei à primeira enfermeira que avistei:
- Onde está Esperança? - E ela respondeu-me:
- Doutor, ela passou mal à noite e foi levada ao CTI!
Sem noção nenhuma do que estava acontecendo, corri em direção à porta do CTI, ali, avistei Esperança na cama, já bem melhor, quando me avistou, sorriu e naquele momento eu tive a certeza de que ela me queria como pai.
Depois de meses resolvendo as burocracias da adoção, ela veio para casa, Sofia, minha esposa, era só felicidade. Esse foi um dos momentos mais lindos e felizes das nossas vidas.
Passado algum tempo tendo Esperança 12 anos, as dificuldades só aumentavam e o preconceito também, no ônibus, na rua, no shopping, em restaurantes, sempre havia alguma manifestação preconceituosa e o conjunto desses fatores fez com que Esperança tentasse suicídio. Felizmente ela se recuperou, após ser atendida às pressas.
Após sair de risco de vida, fui visitá-la e quando entrei no quarto e avistei seu rosto, ela sorriu para mim e ao mesmo tempo lembrei-me daquele olhar de menininha, a mesma, que era exemplo de superação em 2010, naquele momento precisava do meu conselho de pai. Então disse-lhe:
- Filha, não se preocupe com o que as pessoas pensam de você, porque você não é pior que elas e tem que saber disso. Desde o primeiro dia de vida és uma sobrevivente, hoje tenta acabar com sua vida? – Com a cabeça baixa ela respondeu:
- Pai, me desculpe por tudo, quero que saiba que sou muito grata pelo que fez por mim!
De lá para cá, Esperança foi muito feliz, pois entendeu que a essência dela estava em seu coração e não, nas pernas que lhe faltavam. Hoje, passado oito anos, estamos muito felizes e vivendo muito bem. Ah! Já ia me esquecendo, tenho que ir, pois estou atrasado para um casamento. O casamento da minha filha: ESPERANÇA!