sexta-feira, 26 de novembro de 2010

HOMENAGEM: MARIA EUGENIA CASEIROS (CUBA/E.U.A)*





Foto: Aquarela,óleo e plástica s/tela, de Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil), acervo da autora.



A MORTE DE BENITO




MARÍA EUGENIA CASEIROS (CUBA/E.U.A)




Tradução: MARIA JOSÉ LIMEIRA (BRASIL)





As rameiras cuidaram dele no obscuro quartinho da rua do Sol, mas não houve mais tempo, de repente a vida se esvaiu e a elas só lhes restaram as mãos vazias. Fizeram-lhe a barba, banharam-no em água de lavanda, dessa lavanda barata e escandalosa que alvoroçava a mulata Luiza, que trabalhava no café “A Estrela”, onde Benito tinha assegurados, a cada manhã e sem qualquer custo a não ser a aptidão que brotava de seus lábios carnosos, uma xícara de café fumegante e uma carteira de cigarros “Competidores”. – Que sejam “Competidores”, Luiza, não te equivoque de marca. – dizia Benito com a camisa meio aberta abanando o peito com o leque, enquanto Luiza o olhava.

Elas, as putas do bairro Jesus Maria, mesclaram o sabor meio adocicado da morte com o desejo da vida; acariciaram-lhe o corpo com ternura, friccionaram-no todo com água de lavanda, com tanta suavidade, que fizeram empalidecer as gardênias com que ele traíra Luiza. Vestiram Benito com o traje branco e reluzente dos domingos recém passado por Aurélia, a mulata de alma branca de nádegas grandes e voluptuosas que se não se parecesse tanto com a mãe dele Benito talvez já tivesse passado pela pedra de seu sexo sem mais delongas. Mas tinha pena dela e, por mais que tentasse vê-la com outros olhos de cobiça não podia, diante da estampa da semelhança materna ligada aos quatro pequerruchos negrinhos quais anjinhos pululando com as barrigas inchadas de vermes.




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As mulheres seguiam acariciando-o, chorando-o suavemente com aquelas lágrimas que caíam sobre o corpo de Benito como um manancial salgado e pegajoso pelo rímel que levavam preso ao rosto como uma etiqueta espantosa da qual não podiam mais livrar-se.
Calçaram-lhe aquelas meias que o negro Bartolo guardava num baú para ocasião especial e gentilmente ofereceu para que o defunto empreendesse com bons pés a viagem ao outro mundo. Também puseram nele seus sapatos de duas cores os quais, o próprio Bartolo dera um brilho tão faiscante como se Benito fosse usá-los para dançar em seu último baile. Em seguida, um cravo; um cravo vermelho na lapela do morto fez silenciar a todas com a garganta e até com os olhos, como um nó de admiração que professavam ao rufião mais galante de Jesus Maria e seus arredores.

Choraram-no com todas as suas lágrimas, com todas as suas gargantas e com todos os seus clamores, até ficarem exangues e esgotadas todas as carícias e palavras de seu extenso repertório de bordéis e ruelas escuras. Logo o levaram para enterrar... Caminharam debaixo de chuva; uma chuva fria e cúmplice, sob a qual se perdera o singular cortejo pelas ruinosas vielas do cemitério, e os negrinhos de Aurélia transformados em diabinhos chapinhavam nos charcos animados pelo coaxar dos sapos e pela beleza das lagartixas e acenavam com seus lenços na esperança de um novo arco-íris.

[...]


*CASEIROS, María Eugenia: La Habana, Cuba. Reside en USA. Narradora, poeta, ensayista. Miembro Colaborador de la Academia Norteamericana de la Lengua Española (ANLE) y de la Academia de la Historia de Cuba en USA, de la Asociación Caribeña de de Estudios del Caribe, de la Unión de Escritores y Artistas del Caribe y de la Unión Hispanoamericana de Escritores. Integra la Muestra Permanente de Poesía Siglo XXI de la Asociación Prometeo. Colabora con diversidad de publicaciones, actividades y programas de su comunidad.

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