sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

HOMENAGEM: LOURDES ESPÍNOLA (PARAGUAY)*



Foto: Bandeira do Paraguay




Foto: Lourdes Espínola (Paraguay)





AGORA É A HORA



Nós afastamos o céu
a olhar para a estrela
que estava em meu útero.
Eu encontrei você, você se encontrou
firmamento instável
e você começou a desamarrar o futuro.
Cada nó era uma pergunta
e o crepúsculo silenciou solenemente
antes de sua esperança
e os meus medos.
Uma estrela fugaz,
uma constelação em sinfonia
ou uma grande luz circular no seu destino:
estávamos eu e você, meu filho,
procurando a estrela que estava em meu ventre.



MERLIN

Merlin das estrelas e dragões,
Merlin:
artes mágicas
com anéis de trevo
e o banquete de minhas pernas:
as fontes profética.
Eu chamo-lhe "Merlin"
sob a máscara.
Merlin com os sucos de ouro
de um deus maléfico,
Eu permaneço como um lago
que se transforma:
areia ondas da água.
coroação em cativeiro:
Merlin submerso na virilha aquosa.




EU SOU UMA MULHER, EU DESOBEDEÇO



E eles vão voltar, as palavras
das sopranos de Babel.
As cordas vocais trançado:
os dialetos da África,
os murmúrios da Índia,
os gemidos dos esquimós,
as músicas dos Cholas soluçando.
As orações do Islams
e os altos de Milão ...
silenciar todas as notas.
Harmonias emergentes,
a corrida imensa que amamenta
a semente do sol,
da espera.




(DE COMO AS MULHERES ESCREVEM POEMAS ERÓTICOS)



Se escrevesse um poema sobre nós,
seria censurada.
Deixa-me então contar-te
como o junco se faz cana
e espalha lá dentro o seu mel oculto.
Ou falar-te daquela orquídea violeta
de pétalas e pétalas que navegam em seria,
ou de como ela se abre
e entram estrelas
que iluminam o sangue, esse que estava adormecido.
E de como os olhos bebem
o dicionário todo.
Mas façamos um contrato:
a ninguém o contemos
para que este poema não morra censurado.




I



A viagem da minha vida:
suficientemente fechada
para me proteger,
suficientemente porosa
para que tu penetres…



II



A minha roupa virada do avesso,
com as costuras à mostra:
pequenas cicatrizes do meu corpo.
Procurar equilibrar um anjo
nas tuas longas pernas,
é assim que me tens…
e manténs.


III


A lua foi um presente poeirento
- perfeito e único -
que tinha que devolver no dia seguinte:
dependurei-a, pontual,
polida, clara,
dançando na ponta dum fio transparente.
Restaurar o meu corpo,
dar-lhe
luz, cor, movimento
ou talvez um coração espremido
em frases de poemas como fugas.
Um gesto, uma sombra, uma silhueta,
construir com círculos de ritmo
um rosto, uma luz, um carrocel,
ou melhor, uma perfeita analogia.
Restaurar o meu corpo:
Uma abstracção tão luminosa cm seu desejo.
Despi-me toda:
dos dedos ao ventre,
da minha pele à tua,
do meu pulsar à tua mão.
Estendi-me,
a oferenda dos deuses:
palpitante, morna,
balbuciando segredos.
E puseste as mãos
em concha, como ninhos,
e sentiste o fogo
e fechaste os olhos.
A luz brilhante cega
quando não a esperamos.



MITO DA CRIAÇÃO



Abri as pernas
para dar luz ao sol.
O calor derretia-se nas minhas costas
e a sua luz
iluminava os meus joelhos.
As articulações, ao rodar,
transformaram-se em música
que se apaziguava com o passar do tempo.
Abri os braços
e dos seios nasceu a lua.
Então a tua língua
ergueu-me para a humanidade inteira.

LOURDES ESPÍNOLA:nasceu cm Assunção, Paraguai,em 9 de Fevereiro de 1954. Formada nas áreas de Ciências, Relações Internacionais, Humanidades e Literatura,
em 1973 publicou seu primeiro trabalho: visão do Arcanjo, em onze portas. Desde aquela época, Lourdes Espinola publicou várias outras poesias que ganharam dois prêmios literários internacionais.

Suas publicações, destacam-se em particular: monótona amarelo (1976), Almenas do silêncio (1977), ser mulher e outras desventuras (1985, edição bilingue:. Inglês-Espanhol), Tímpano e silêncio (1986) e de ida e volta (1990 .)

sua obra foi traduzida a várias linguas e publicadas em França, Itália, Alemanha, nos E.U.A., Venezuela, México,Argentina, Espanha, entre outros.
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