quarta-feira, 16 de junho de 2010

PALESTRA: ARTE,EDUCAÇÃO E ARTETERAPIA - O Primado da Imaginação Criativa Na Sociedade Contemporânea




1ª Foto: Poetas e Escritores Argentinos e brasileiros
2ª Foto: Vanda Lúcia da Costa Salles ( Lendo Poemas) e a Organizadora Selene
3ª Foto: Vanda Lúcia da Costa Salles( Palestrante doBrasil) e Silvia Aida Catalán ( poeta, fundadora e Diretora do T.A.A.R. - Alitas de América-Argentina).


ARTE, EDUCAÇÃO E ARTETERAPIA – O Primado da Imaginação Criativa Na Sociedade Contemporânea.


Por : Vanda Lúcia da Costa Salles ( Brasil)*


Dedicado à: ANDREA DE JESUS RESENDE ( in memoriam)



“ Ao inventar a língua nos estamos inventando a nós próprios.
Estamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira,
que dança todas as brisas sem deslocar o seu chão.”

Mia Couto (Moçambique)



“ Sabia mais: que o que se escreve,
com a sinistra ou com a destra,
uma outra mão o faz na véspera,
e que o artista, em sua inépcia,
somente o crê quando o reescreve.”

Ivan Junqueira ( Brasil )



Na linha da afetividade e esperando que as palavras (escritas e faladas) sejam melhores que o silêncio, nesse III Encontro Nacional de Narradores e Poetas “Unidos Pelas Letras” BIALET MASSÉ – 2009, é que em nome do T.A.A.R-Alitas de América saudamos a todo o povo argentino, aos poetas e narradores presentes, aos organizadores e a todos àqueles que contribuíram e contribuem para que esse evento seja a expressão da poiese humana.
Por poiese humana, compreendemos o lugar privilegiado do fazer-se humano, ético e estético, abertura do diálogo para a coexistência ante a violenta banalização da vida. Exemplificado pela criatividade artística da brasileira Neles Azevedo que expôs para o mundo seus mil bonequinhos de gelo derretendo-se sob o sol, nas escadarias de Berlim(Alemanha), nesse dia 02/09/2009, simbolizando seres humanos pedindo socorro contra o aquecimento global, principalmente para ¼ da população mundial.
Assim, através de elos intersubjetivos entre ARTE, EDUCAÇÃO E ARTETERAPIA, procuraremos pensar, aqui, o primado da imaginação criativa a serviço da humanização na sociedade contemporânea, aquela vista como um dos Norte da sustentabilidade social e politicamente correta.




Há em língua portuguesa, entre tantos outros, dois inventivos escritores e poetas contemporâneos (cujas epígrafes o demonstram ): o primeiro, o senhor Antonio Emilio Leite Couto, ou melhor, Mia Couto, que com a força de sua criatividade literária, impulsiona a “Última Flor do Lácio”, na valorização da identidade cultural de Moçambique, pais africano de sua origem ( com vinte milhões de habitantes). Em sua posse na ABL- Academia Brasileira de Letras (1998) como escritor correspondente disse: “ quando me pergunto por que escrevo respondo: para me familiarizar com os deuses que não tenho. Para inventar, em mim, meus mortos. Escrevo para fazer de meu tempo moradia divina. Escrevo para ganhar a minha eternidade. O resto não se explica. E o escritor vive do que não se pode explicar.”
Entretanto, o segundo poeta, Ivan Junqueira, brasileiro e acadêmico da ABL, deixando entrever a supremacia da sabedoria e com a força da imaginação criativa de seus versos, no poema “Palimpsesto”( dedicado ao poeta e amigo de Niterói: Antonio Carlos Secchim), cujo significado é “ escritura antiga”, onde cabe uma leitura amorosa e aqui fazemos:



“ Eu vi um sábio numa esfera,
os olhos postos sobre os dédalos
de um hermético palimpsesto,
tatear as letras e as hipérboles
de um antiqüíssimo alfabeto.
sob a grafia seca e austera
algo aflora, mais secreto,
por entre grifos e quimeras,
como se um código babélico
em suas runas contivessem
tudo o que ali, durante séculos
houvesse escrito a mão terrestre.


Sabia o sábio o mistério
jamais emerge à flor da pele,
por isso, aos poucos, a epiderme
daquele códice amarelo
ia arrancando como pétalas
e, por debaixo, outros arquétipos
se articulavam claras vértebras
de um esqueleto mais completo.
Sabia mais: que o que se escreve,
com a sinistra ou com a destra,
uma outra mão o faz na véspera,
e que o artista, em sua inépcia,
somente o crê quando o reescreve.
Depois tangeu, em tom profético:




“Nunca busqueis nessa odisséia
senão o anzol daquele nexo
que fisga o presente e o pretérito
entre os corais do palimpsesto”.
E para espanto de um intérprete
que lhe bebia o mel do verbo,
pôs-se a brincar, dentro da esfera
com duendes, górgonas e insetos. “



De minha parte, enquanto mulher de meu tempo, escritora e poeta, ouso dizer que escrevo para poder pensar/sentir porque sei que o diálogo para a coexistência através das línguas é o meu universo. Por isso, só por isso, escrevo e me transformo em linguagem. Linguagem que é arte, arte oriunda das asas da imaginação criativa e que engendra a Arteterapia que é na autopercepção, arte da transformação do corpo/alma.
Esclarecemos que por Arte, entendemos a voz intersemiótica ou a bioecolinguística do ser em seu discurso ex-cêntrico. Linguagem plural do imaginário, portanto, poema interior e essencial que impulsiona o indivíduo para a realização do seu projeto existencial que é humanizar-se, isto é, colocar sabedoria e arte em seu projeto de vida.
Isto posto, cabe a pergunta: O que a sociedade exclui? O que baniu do estatuto da norma?
A obra de arte- espaço do sentir e do pensar-, revela: a situação de época, o erro do pensar humano que diz ser o diferente anormal quando sabemos que normal é ser diferente em sua singularidade.
O discurso técnico-burocrático sempre a negar ser o sujeito o real centro de passagem de produção do conhecimento. Esse erro epistemológico que cria a falsa noção de impossibilidade do presente de que a pessoa humana possa ser suprimida em detrimento do mercado globalizado e gerador da padronização cultural –esta, responsável pela cofose generalizada e obliteração ocular profunda da semiose cultural contemporânea.
Em Saberes e Cidadania na Cidade (Artmed,2007), Roger Bunales explica: “ vivemos em uma época que não tem equivalente histórico. Aprendemos que a emancipação social não basta, que a emancipação mental de cada ser humano é necessária para obtê-la e que as relações de dominação do homem pelo homem são a negação da emancipação desejada.”
Ao buscar conscientizar o cidadão da importância de suas potencialidades, coordenado pelo grupo francês de educação nova, disseminam a ideia de que é possível pensar um mundo em que os saberes e a cidadania possam ser tratados com mais inteligência e humanidade.
No contexto social do diálogo, a sugestão é: enfatizar a coexistência de forma coerente e criativa como forma de educação humana. Um sonho? Talvez não, porque ousamos dizer que em O Chamado das Musas-Pô-Ética Humana: O Enigma do Recheio- A Arteterapia ao Sabor da Educação Brasileira, ajudou e nos ajuda a compreender que a arte delira resistência de vida, além de ensinar-nos a importância do conhecimento que é informação, transformar-se em um saber e por sua vez, transformar-se em sabedoria. Porque, como diz o ditado popular, “ o conhecimento ajuda para a vida, mas a sabedoria constrói uma vida”.
O educador, escritor e acadêmico brasileiro Arnaldo Niskier, em “ A Educação para esse milênio” escreve: “ nesse século a educação deverá se basear no desenvolvimento do universalismo científico e tecnológico, meta-síntese do natural desaguadouro da globalização da economia. Virá uma escola multicultural com a garantia plena dos direitos civis nos sistemas educacionais”. Para tanto, entendemos ser o ponto fulcral da Educação hoje, da escola, da universidade e do educador, contribuir para que o aprendente ( seja ele quem for e aonde estiver) possa pensar sistematicamente e ecologicamente, isto é, desenvolver em si uma sabedoria. E sabedoria senhores, somente com pensamento reflexivo, vivência e coexistência.
Este também é o pensamento- síntese do Dr. David Bohm, físico teórico mais importante da atualidade que desenvolveu uma proposta da teoria quântica na forma de uma “ álgebra fermiônica”( tratamento algébrico da duração de como desdobrar o espaço-tempo), e em O Pensamento Como Sistema ( Madras, 2007), afirma ele: “ a palavra torna visível o pensamento que é imagem expressiva do ser. Pensamento é a única coisa que temos para resolver os nossos problemas. Mas somente a sensibilidade deixa ver o que faz sentido e é coerente.”
Confúcio que nasceu na China e viveu entre os anos de 551 e 479 a.C, sabiamente nos ensina: “ Lembra-te sempre de que existes porque antes de ti existiram outros” e alguém imbuído de sonhos e projetos, brincando escreveu a possível fórmula da sabedoria: I = I = C = S = S . Interpretada assim: a Informação ( I) combinada com a Inteligência ( I) resulta no Conhecimento ( C). O Conhecimento ( C) mais a Sensibilidade (S) é igual a Sabedoria (S).
Então senhores, que grassem os sonhos! Que a idéia de impossível do presente, o qual projeto político ideológico não impeça o homem de colocá-lo em situação de crítica permanente. Para que a exclusão da diferença, historicamente comprovada,
A negação da alteridade e a obliteração da crítica social, estes, interditadores da cidadania, não afoguem no marasmo a Democracia (seu perfeito entendimento) , nem dilua da vida suas possibilidades e o humano de nós.
Isto posto, do profundo do coração, mais uma vez, obrigado.






Palestra apresentada no III ENCUENTRO NACIONAL DE NARRADORES Y POETAS- ‘ UNIDOS POR LAS LETRAS’- BIALET MASSÉ-2009, no dia 26 de setembro deste mesmo ano, em Córdoba-Argentina. Com participação da autora na III Antologia com contos curtos.

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