quarta-feira, 16 de junho de 2010

PALESTRA: INTERTEXTUALIDADE E INTRATEXTUALIDADE EM AUTORES LATINOS-AMERICANOS PÓS-MODERNOS - NA UNIVERSIDADE NACIONAL DE SAN MARTÍN-ARGENTINA






1ª Foto: Doutor Alejandro Drewes( poeta da Argentina), Silvia Aida Catalán ( poeta da Argentina)-Fundadora e Diretora do T.A.A.R-Alitas de América, Hilda Interiano de Payés ( poeta de Honduras) e Vanda Lúcia da Costa Salles ( poeta e palestrante do Brasil)
2ª Foto: Profª. Vanda Lúcia da Costa Salles (poeta do Brasil) e Doutor Alejandro Drewes (Argentina) .
3ª Foto: Diploma conferido pela U.N.S.A.N.- Universidade Nacional de San Martín-Argentina.





INTERTEXTUALIDADE E INTRATEXTUALIDADE EM AUTORESLATINOS-AMERICANOS PÓS-MODERNOS.*Por; VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES ( Brasil)
“ No es vano esfuerzo unir la vida de los pueblos.Ni vana lucha la que espera de nos el Deus Poderoso.”(Opertura- SILVIA AIDA CATALÁN )
A vida é arte por excelência. Efêmera, talvez. Entretanto, deve estar no centro das atenções humanas. Ter essa idéia na memória é exercitar a consciência poética. E nós, latino-americanos, o tempo todo isso fazemos, como comprovam nossas obras e lutas, do pleno exercício de vida cotidiana à presença nessa conceituada e histórica Universidade Nacional de San Martín.Um renomado escritor brasileiro, ímpar na artesanaria da palavra, genial e ousado, Machado de Assis, disse certa vez“O tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo,Uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo.Também se pode bordar nada. Nada em cima do invisível é aMais sutil obra deste, e acaso do outro.”No entanto, dizemos quando a alma beija o coração a poesia se revela. Esperando que a poesia se faça revelação e que ilumine a todose que a palavra se faça eterna cúmplice da verdade a busca ao livre pensar.Nos estudos poéticos e arteterapêuticos empreendidos em pesquisas em língua e linguagem, em busca da técnica plena por uma prática de ensino que explicite o essencial no possível proveniente do centro da forma e, o qual denominamos de BIOECOLINGUÍSTICA, embasamo-nos nesses limites dos discursos paralelos tomando por base o brilhante trabalho do professor e escritor brasileiro Gilberto Mendonça Telles, que em seu livro Retórica do Silêncio I – teoria e prática do texto literário esclarece a dificuldade da leitura e escrita na escritura inaugural, “ O silêncio da censura excita o silêncio da cesura e os espaços vazios da linguagem se tornam os poros por onde a liberdade respira e permanece. Ler é fazer falar os silêncios da linguagem (TELLES, 1989, P.17).” Então, procuraremos aqui, fazer falar o silêncio das línguas e de suas linguagens.Ao pensar a intersecção entre linguagem, subjetividade e cultura há que se evidenciar o papel da palavra escrita, que por sua vez, principia em ser a representação do que se convencionou a chamar de linguagem verbal, mas também o ponto fulcral para seestudar, pesquisar e refletir sobre a evolução histórica da humanidade - trabalho eproduto social com comunhão étnica e lingüística em sua plena e justa verdade como comprovam as primícias da linguagem -, como processo e elos em busca da construção da informação, conhecimento e saberes.A língua faz parte de uma cultura, ter falantes e documentação escrita são as bases para que esteja viva e em constante renovação. Portanto, “ a preservação da diversidade lingüística é essencial, pois a língua está no cerne do que significa ser humano” (CRISTAL, 2005).Sabe-se que pela palavra o indivíduo se constrói e se construindo se configura no e com o mundo e para o mundo, isto é, quanto mais se configura como sujeito intersubjetivando-se, mais densidade subjetiva conquista, porque “ a intesubjetividade é a tessitura última do processo histórico de humanização ( FREIRE,1984). E essa tessitura em sua gênese ontológica qualificativa prima pelo “ princípio do respeito à diversidade, às diferenças étnicas, culturais e religiosas no planeta, o qual necessita de reformulações cotidianas nas ações contemporâneas de apropriações dos espaços, do corpo e da língua -, para que a consciência e a razão fundamente o diálogo fundamental, e seja ponte nas relações intersubjetiva “(SALLES,2002). E por sermos seres inconclusos, necessitamosaprender o significado para compreender profundamente a significação da vida e na vida. E isto acontece, mais facilmente, através da arte que também é linguagem e, desvela, revela e transfigura-nos para além das fendas do silêncio das formas claras, energéticas e primordiais.Daí que para pensarmos a exclusão no espaço cotidiano da vida de qualquer cidadão e/ou nas escolas públicas na América Latina e em qualquer parte desse planeta, é fato compreender que “as desigualdades sociais têm origens econômicas e se perpetuam na desigual distribuição da riqueza na sociedade” (SOARES,1996) e na contundente retórica ideológica das classes dominantes exercidas, principalmente, sobre muitas identidades étnicas consideradas minoritárias por àquelas. E ao buscar a memória arqueológica transdisciplinar do saber na história da educação, compartilhamos o que afirma, SOARES“A escola pública não é, como erroneamente se pretende que seja,uma doação do Estado ao povo, ao contrário, ela é uma progressivae lenta conquista das camadas populares, em sua luta pela democratização do saber, através da democratização da escola pública.[... ] diferença não é deficiência. Explica-se pela opressão que essasclasses dominantes, com a mediação da escola, exercem sobre as clasdominadas, através da imposição de sua cultura e de sua linguagem, apresentadas como legítimas” (Ibidem,1996, pp.9 e 55 ).Cabe as camadas populares, cada vez mais, buscar caminhos que dignifiquem em qualidade a escola pública, fundando-se na relação dialógico-dialética entre educador e educando, onde ambos aprendam junto o seu profícuo “diálogo intersubjetivo” (GADOTTI,2001) e espraiem o acesso ao conhecimento, visto que para conquistar, questionar e transformar a cultura e a linguagem impostas pelas classes dominantes, cabe aos professores compreender que“ensinar por meio da língua e, principalmente, ensinar a língua são tarefas não só técnicas,mas também política ( FREIRE,2003)E com isso aprender a construir o seu projeto político-social, tendo em vista que, normalmente os dirigentes públicos se embasam em idéias ditatórias e discriminatórias para afirmar suas posições e ações, quase sempre, em detrimento da maioria da população nacional.Um verdadeiro exemplo de intersubjetividades comunicativas aconteceu em minha prática educativa, que a mim parece, em uma reflexão enquanto educadora e escritora, estar coerente à proposta pedagógica que uso e ouso conceituar de Pedagogia Ex-cêntrica – a que faz uso da paradoxa ao enfatizar às idéias em uma antropofagia transdisciplinar e reivindica a criação da Bioecolingüística e vai ao encontro do que propõe Boaventura Sousa dos Santos para desconstrução da “subjetividade conformada” e da construção da “ecologia do saber”, conforme palestra na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2001) mas também confirma a importância da leitura e escrita , enquanto apropriação cultural na história da humanidade como projeto fundamental para conscientização do lugar do humano no tempo presente. Após trabalhar a intertextualidade e intratextualidade na poética contemporânea através de parábolas, poemas, fábulas , contos e afirmar a necessidade de adquirirmos a técnica precisa para uma performance interpretativa eficaz, o aluno Daniel Nazaré dos Santos (turma 521, do Colégio Municipal Irene Barbosa Ornellas- do bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo,RJ-Brasil-, bairro este considerado a maior favela plana da América Latina), parou a aula, onde eu colocava no quadro o texto: “Quanto Você Vale?” (LEGRAND, 2000) e deu-me um papelucho de bala. Ao parar a aula e ler o texto ofertado, numa inspiração iluminada surgiu a idéia-conceitual da Bioecolinguística e para que servia.Naquele pequeno pedaço de papel de bala adocicada estava escrito a informação sobre o poema mais antigo, provavelmente escrito a 3.500 a. C., num bloco de argila, segundo historiadores informam sobre a pré-história e o aparecimento da escrita na Mesopotâmia ou, talvez, no Egito ( GUINESS WORLD, 2007 ). E dizia assim:O Poema de Amor Mais AntigoNoivo tão caro aoMeu coraçãoDivina é a tua beleza,Doce como mel,Leão tão caro aoMeu coraçãoDivina é a tua belezaDoce como mel. “Percebemos de imediato, que o aluno fizera a intertextualidade com o livro: “Poemas Rupestres”, de Manoel de Barros (BARROS, 2006) que havia comentado em aulas passadas, quando expliquei o que era intercomunicação poética. Pedi que escrevesse o porquê dele ter dado a mim àquele papel e o aluno escreveu o seguinte “ Professora, eu resolvi te dar esse papel de bala porque meu colega comprou a bala e nós dois lemos e gostamos e resolve-mo-lhe dá porque eu achei que ela(você) ia gostar e que ela (você) ia passar no quadro (para os demais alunos)”, entendi logo, que este aluno queria intercomunicar-se, pois intuía os recursos retóricos contemporâneos. Assim, surgiu a idéia desse encontro, aqui, para pensarmos um pouco mais esses, que ouso chamar de LOAVE - loucos objetos amorosos, volúveis e especiais.
DOS LIMITES DA ORIGINALIDADE EM OBRAS DE ARTE : A Estilística é a disciplina que estuda a expressividade de uma língua, isto é, sua capacidade de emocionar mediante o estilo e a construção dessa singularidade. Por estilo, entende-se a maneira própria de cada escritor se expressar e/ou do escritor/leitor fazer discursos paralelos. E por Retórica a arte de elaborar discursos. Colocação da voz, codificada e transcodificada, em arte intencional, sublime na humanização dos signos,para a epifânica intercomunicação.Nos estudos contemporâneos há uma ênfase não mais nas figuras de linguagem somente, mas também, e principalmente, nos recursos retóricos de discursos paralelos que discutem o conceito de originalidade na profundidade do espaço textual. Portanto, a análise de uma obra de arte no Século 21 requer a conscientização das seguintes posturas expressivas e retóricas que permeiam as produções discursivas, conforme tão bem expressa o poema do poeta brasileiro em sua intenção metalingüística ao citar o poeta espanhol e buscar o diálogo com palavras apropriadas do vocabulário poético de Vallejo.
INTERTEXTUALIZANDO CÉSAR VALLEJO
Poema de Antonio Miranda
“vagarían acéfalos los clavos”
CÉSAR VALLEJO
Inventei o verbo aindar
quando ainda havia verbos
e havia caminhar.
Havia idas e regressos
e havia versos a desafiar o tempo e seus retrocessos.
!Tengo el alma clavada por cien clavos…!
vocifera Vallejo com ou sem pregos cravados na garganta
e nas asas seqüestradas.
Ainda havia flores tranqüilas nas madrugadas
e a certeza de arrebóis transcendentes
despertando um morto de sua tumba,
havia dentes, impureza, sóis e um horto havia.
Um morto que voltava às trevas da existência
com as luzes infinitas de seu desprendimento,
substância em clara mutação.
Ainda: apodreciam “sueños que no tienen cuándo”.
Aindando o inútil reverso do Não-ser e sua essência.
(Chácara Irecê, Goiás, 2/7/2006)
RECURSOS RETÓRICOS DE DISCURSOS PARALELOS :No centro do pensamento contemporâneo dá-se a preocupação com a questão da Identidade/Diferença e Memória/Esquecimento, o que também permeia as discussões em Língua/Linguagem e de seus centros e margens periféricas, conforme pensamento no mundo contemporâneo de uma elite do conhecimento. Daí entendermos que, nos tempos pós-modernos, de “vida-líquida” (BAUMAM,2007), carecemos aprender e ensinar a pensar, e não só a construir, principalmente em literatura, as noções intertextuais e intratextuais que estabelecem o diálogo possível entre obras, afirmando ou negando-as e marcando os seus discursos profundamente sob o signo da Identidade/Diferença. Podemos ,então, poeticamente pensar e devanear:
1- DA INTERTEXTUALIDADE: Entende-se por intertextualidade o processo de relacionamento dos diferentes discursos no espaço intertextual, enquanto ponto de cruzamento de vozes polifônicas. Esses cantos paralelos na obra revelam a primazia do intertexto e de seu discurso, profundamente marcado pela literariedade, além de definir outra ótica para o momento de criação poética em sua originalidade discursiva. A alusão, a epígrafe, a paráfrase, o seguir, a citação, a influência, a imitação, o manifesto, o prefácio, são processos que tratam da identidade com uma obra; o pastiche e a paródia são considerados, enquanto processos intertextuais, textos marginais. Negam um texto fonte. Vimos estes processos em Marita Troiano (Peru), Marcela Muñuz ( Chile), Yennes Paredes ( Chile), Patrícia Diaz Bialet (Argentina), Silvia Long-Ohni ( Argentina), Patrícia L. Boero ( Espanha), Milagros Terán ( Nicarágua ), Beatriz Schaelfer Peña ( Argentina), Esthela Calderón ( Nicaragua), Silvia Aida Catalán (Argentina), Cristina Domeneche ) Argentina) Anace Blum (Equador), Corsino Fonte ( Cabo Verde), Alejandro Drewes ( Argentina) e tantos outros. No entanto, percebe-se uma constante preocupação no que toca o aprimoramento e realce da língua num adensamento lingüístico que prima a busca da plenitude em arte. O encontro com a obra-prima.
2- DA INTRATEXTUALIDADE : É quando um texto dialoga com outrotexto ou peça do mesmo autor. Alude, cita ou parodia a sua própriaescritura. Encontramos em Pepetela (África), Manuel de Barros (Brasil), Marilda Confortin ( Brasil), Vanda Salles (Brasil), Mia Couto(Cabo Verde ), Carlos Enrique Ungo ( El Salvador) e Odette Alonso ( Cuba), entre outros que questionam as suas próprias obras ou personagens interculturais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário