quarta-feira, 16 de junho de 2010

PROSA POÉTICA: HERANÇA

Foto: Juan Emmanuel Ponce de León e Vanda Lúcia da Costa Salles,
apresentação do livro: La Finitud del Vuelo, no 1º Encuentro Nacional y Internacional " Para Ser Voz En El Silencio"- S.A.L.A.C. - Villa Carlos Paz, Córdoba-Argentina-2010


“ Minha infância sabe:
… de uma ponte que não nos animamos a cruzar
E nos deixou tremendo.”

Luis Alberto Salvarezza



A pedra, como a mão tem escrito alguma história ( uma sabe de matar gigantes, outra arrojada “ livre de pecado” baixa até o Uruguai e se perde na correnteza… Outra é esta, virgen de vozes, que guardo no punho).
As cidades perdem as pedras debaixo do asfalto e esquecem histórias que envelhecem o ouvido. Aquí, aonde o asfalto é somente uma margen azul e as pedras nos cravam nos calcanhares, escutamos suas vozes. Meu pai as ouvia atento. Juntou um punhado delas interesado no azar, e eu as herdei, como também herdei alguns abraços.
Não faz falta invocá-las nas lembranças porque estão intactas sobre a palma de minha mão, também estão intactas suas vozes que invernaram nos pátios de minha casa.
Certa inocência descubro quando escuto as histórias que contam porque não sei se relatam suas histórias ou se elas leem àquilo que está escrito em minhas mãos, contam minha vida e me desconheço em alguns medos que aparecem debaixo da luz do dia…
Sumária a essa herança alguns papeis amarelos adormecidos no armário, prateadas moedas, uma versão do Quixote de La Mancha, também uns irmãos e uma mãe; o amor a minha casa e a meu povo.
Porém as pedras seguem orando, trato de descubrir que do pouco que pude dar-lhe, decidiu levá-lo: talvez um verso, uma imagen silenciosa, uma fotografia de toda a família, ou talvez o vapor luminoso que agora se prende à minha janela e começa a desvendar e a desnudar palabras convidando-me ao diálogo.


Do Livro: PÁTIO DE INFÂNCIA

De JUAN EMMANUEL PONCE DE LEÓN ( ARGENTINA)

Tradução: Vanda Lúcia da Costa Salles

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