sábado, 26 de junho de 2010

DA (AUTO) BIOGRAFIA: BISPO DO ROSÁRIO, POR VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES*








Um anjo negro de aura azul-violácea. Um Bispo do Rosário hominizado pelo fulgor de sua plasticidade telúrica, neo-realista no desejo de firmar a sua alteridade. “ No silêncio de sua cela, arquitetou o itinerário de sua passagem: ultrapassar a ideologia- pelo desejo de não ser na vida um ponto final, e sim, possibilidade de encontro-, pois sabia que a obra de arte não desce da eternidade para a Terra. Pelo contrário, sobe da Terra para a eternidade (MONTEIRO,1961, P.18).”
Ei-lo que se apresenta:
1909: Nasci, segundo o registro de batismo, na Igreja de Nossa Senhora da Saúde, na cidade de Japaratuba ,Sergipe, em 05/10/1909.
Possuo registro na Marinha de Guerra dizendo que nasci em 14/03/1911.
Na Light, onde trabalhei, tenho registro de nascimento de 16/03/1911.
1925: Saio de Sergipe para tornar-me marinheiro. Tenho 15 anos. Sou separado de minha mãe. Entro para a Marinha de Guerra do Brasil. Torno-me Timoneiro e depois Sinaleiro. Nas horas vagas sou pugilista.
1933: Sou expulso da Marinha por “ insubordinação” e “incapacidade moral”. Trabalho na Light.
1934: Torno-me guarda-costas, segurança pessoal do senador Gilberto Marinho.
1938: Sou preso. Considerado perigoso, logo internado no Hospital Psiquiátrico D. Pedro II, no Rio de Janeiro, após delirar durante dois dias nas ruas da cidade. Estamos em plena ditadura do Estado Novo.
Projeto meu “Sembrantes” real, todo corpo e alma. Sei que eu vim em 22/12/1938.
1939: Sou internado na Colônia Juliano Moreira com o diagnóstico de esquizofrenia paranóide (fragmentação do ego e mania de perseguição). Permaneço 21 anos ali, “esquecido”. Ganharei “liberdade” após essa longa exclusão, aos 51 anos de idade.

1964: No dia 8/2/1964 sou internado ( novamente por traição) na Colônia Juliano Moreira. Esta repetição histórica “enlouquece-me”: estamos na ditadura. Questiono os limites da coerência (real ou irreal?).
1985: Exponho “ A margem da minha vida” ( MAM-RJ). Sou convidado a representar o Brasil, em 1985, na exposição da Bienal de Veneza, com o tema Identidade e Alteridade.
A direção de minha obra ganha um sentido novo, pela afetividade e cartase exercida ao conhecer Rosângela Maria Magalhães Gomy, uma musa.
1989: Morre o artista plástico Arthur Bispo do Rosário, um anjo negro de aura azul-violácea vítima de um enfarte do miocárdio, arteriosclerose e bronco-pneumonia, em 5 de julho, às 19 horas.

* in: DIVERSIDADE E LOUCURA EM OBRAS DE ARTE: UM ESTUDO EM ARTETERAPIA, de VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES, Ed. Ágora da Ilha, RJ,2002.
ISBN 85-86854-99-9

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