nº01 ENTIDADE NACIONAL DE LITERATURA, ARTES,CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO Fundadora e Diretora: Profª Vanda Lúcia da Costa Salles
sábado, 31 de julho de 2010
DAS COISAS ALADAS I – A POÉTICA DA DIFERENÇA EM LÍNGUA PORTUGUESA
Foto: O poeta Carlos Drummond de Andrade em sua biblioteca
Foto: O poeta Carlos Drummond de Andrade
DAS COISAS ALADAS I – A POÉTICA DA DIFERENÇA EM LÍNGUA PORTUGUESA
- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)
Em meu espaço de pesquisa: a sala de aula e os escritos verbais e não-verbais em nossas vidas cotidianas, observo o quanto se faz necessário a reeducação do olhar para uma efetiva aprendizagem das imagens construídas e/ou jogos de sentidos em língua portuguesa ou espanhola.
Ao pensarmos aprendizagem, percebemos que a mudança, enquanto estímulo novo, é que nos faz aprender e este fato determinará uma marca para um futuro esquema “lembrança” ( acionador da memória ativa) na singular plasticidade neural de qualquer ser humano.
Todos os seres humanos aprendem. Aprender faz parte do processo de sobrevivência e resistência vivencial. Cada um em seu ritmo e a sua maneira, de acordo com a sua sensibilidade e linguagem comunicante escolhida para expressar o esquema adquirido. Sendo assim, o que devemos é aprender a olhar pelo prisma da diferença, aguçando a sensibilidade para a elasticidade amorosa do encontro com o Outro em um aperfeiçoador exercício de nossa Alteridade.
Emociono-me cada vez que olho e enxergo o poético e com atenção de iniciada, leio, sinto e penso “ A Cor De Cada Um”, do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade ( representante da 2ª fase do Estilo de Época Modernismo da Literatura Brasileira, mas que o ultrapassa ), cuja obra universaliza o cotidiano já inumano pelos esquecimento ou repetição autômata do viver, a partir de sutil e penetrante ironia como fonte primordial de instauração do novo ou jeito diferente de ver e ser. Ei-la que saborosamente se mostra aqui em “Os Diferentes” :
OS DIFERENTES
Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na Ilha de Ossevaoleps, um povo primitivo, que anda de cabeça para baixo e tem vida organizada.
É aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto, em refutar a visão do mundo. E o que eles dizem com os pés dá a impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a linguagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses nativos e foram recolhidos ao hospital da Ilha.
Os cabecentes-para-baixo, como foram denominados à falta de melhor classificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão.
Bela e extravagante a linguagem não-verbal expressada pelos gestos dos pés dos nativos de Ossevaoleps, ironicamente comunicada através da linguagem verbal e do seu fazer metalingüístico, é reveladora de longevidade e prazer, além de resiliência eficaz aos dissabores do mundo.
A criança ávida dentro de mim caminha tal os “cabecentes-para-baixo” e desse aprendizado óbvio, mas também inesperado não abre mão, porque a adulta que em mim também habita, aprendeu por vivências apaixonantes que ser humana é ousar buscar o aprimoramento de sua humanidade perante as coisas aladas. E essas coisas aladas aguçam-nos a percepção do mundo e são as que nos orientam em nossa prática afetiva e pedagógica diante da vida e de seus frutos e sementes singulares; os seres humanos e as suas humanidades.
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